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O papel (invisível) do analista


Luís Pedro foi analista na última época da equipa de sub-23 do FC Vizela. Atualmente, pertence à equipa de scouting de formação do Boavista FC. No Twitter, gere a conta do Futebol Puro (@purezadofutebol).


Trabalho “invisível”: é desta forma que podemos classificar o papel do analista num clube de futebol. Muitas vezes esquecidos por parte dos adeptos e da própria estrutura nas horas de maior sucesso, revelam-se como elementos vitais durante toda a época desportiva, em momentos e contextos diversos.

As funções de um analista num clube de futebol podem abranger uma panóplia de tarefas, nomeadamente a gravação e análise dos treinos da equipa, de modo a identificar lacunas a trabalhar, assim como aspetos onde o coletivo ou algum elemento individual evidencia qualidade e pormenores a aplicar nos desafios seguintes. Além disso, no próprio jogo, o analista, com meios mais sofisticados ou rudimentares, intrinsecamente associados às condições e orçamentos de cada clube, deve perceber o que acontece no terreno, podendo até, em caso de necessidade, gravar o jogo e, ao mesmo tempo, perceber quais os aspetos preponderantes, sejam estes relacionados com a sua equipa ou com o adversário, devendo existir uma comunicação constante com a equipa técnica, com objetivo de difundir a informação o mais rápido possível, de forma a corrigir ou melhorar algumas situações e, certamente, aumentando as possibilidades de sucesso. Após o jogo, o analista pode também visualizar o jogo num computador ou TV, percebendo aspetos onde a sua equipa errou, recortando esses lances através das plataformas digitais recomendadas ou com as quais se sinta familiarizado, criando um compacto que, posteriormente, seja enviado à equipa técnica e, num passo seguinte, filtrado para mostrar ou explicar aos jogadores durante a semana seguinte de trabalho. Por fim, mas igualmente importante, o analista pode observar jogos dos adversários, elaborando relatórios e vídeos com os momentos e processos onde o adversário demonstra qualidade, mas também com as fragilidades que podem ser exploradas, de modo a criar soluções para maximizar as hipóteses de vitória.

No âmbito pessoal, com experiências e vivências concretas, estas foram essencialmente as minhas funções durante a parte final da época 2020/2021, ao serviço dos sub-19 do FC Vizela e, sobretudo, na época 2021/2022, como analista dos sub-23 do mesmo clube. No entanto, devido à minha situação académica, a maioria da época ao serviço dos sub-23, com exceção da pré-época e das jornadas iniciais, foi realizada à distância, o que, num primeiro momento, pode ser associada com a ideia de alguma distância perante a realidade, mas que na verdade não aconteceu. Devido às plataformas atualmente existentes e ao desenvolvimento tecnológico, foi possível observar os jogos da nossa equipa, assim como dos adversários. A partir daí, foram elaborados materiais com informação sobre ambas as partes, transmitidos à equipa técnica que fazia uma seleção da informação e da forma como a mesma era transmitida aos jogadores. A comunicação constante, motivação, rigor, organização e disponibilidade foram também uma constante ao longo da época, o que obviamente é necessário para a função em questão e para as exigências da mesma. Existia sempre a preocupação de, na data em que realizávamos um jogo contra um adversário, a informação sobre o adversário seguinte encontrar-se já devidamente recolhida e sob alçada da restante equipa técnica, de modo a facilitar a organização e toda a dinâmica da semana de trabalho seguinte. Assim, era possível estar sempre um passo à frente e, enquanto a semana de treinos seguinte decorria, a minha função era já estar a observar e analisar os jogos não do próximo adversário, mas sim da jornada seguinte, devendo a mesma ser enviada no dia anterior ou no dia de jogo com o primeiro adversário, e assim sucessivamente. 


Além de tudo o que foi mencionado, é também vital o analista possuir capacidades relacionadas com as plataformas digitais, para observação, recolha e tratamento da informação. Neste caso, a minha experiência baseou-se na gravação de jogos com câmaras de filmar, mas também no trabalho com plataformas como LongoMatch, MetricaSports e InStat embora, neste parâmetro, o LongoMatch tenha predominado. Através desta plataforma, eram realizados recortes sobre momentos e processos, padrões existentes, de modo a identificar possíveis debilidades a atacar, mas também aspetos fortes do adversário, e onde a nossa equipa revelava problemas e erros. Juntamente com isto, é necessário ser sucinto, conciso e preciso na informação a transmitir para a equipa técnica, sendo que, neste aspeto, mas também noutros, as especificidades podem sempre variar conforme o contexto envolvente, a equipa técnica, o plantel, entre outros aspetos.

Em suma, é importante realçar cada vez mais o papel dos analistas no futebol, por todo este trabalho que realizam nas diversas componentes, com soluções, meios e contextos variados, mas que, no seu conjunto, contribuem para potenciar evoluções nos treinos e também nos jogos, assim como progressões individuais e coletivas. Urge valorizar esta função e torná-la mais cativante, designadamente através da oferta de formações por parte dos clubes aos analistas que, numa primeira instância, ingressem neste mundo a partir de regimes de estágio, o que será benéfico para ambas as partes. 

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