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Futebol: Como Criar e Treinar um Modelo de Jogo


O texto que se segue é parte transcrita do livro:

Futebol
Como criar e treinar um modelo de jogo



“No mais simples e recôndito sítio onde se joga um jogo de futebol, está escondido um fenómeno complexo de relações e ações. Curioso será perceber que estas relações e ações poluem a perceção e conhecimento possível sobre este mesmo jogo.  
Independentemente das caraterísticas do jogo consideramos que é fundamental ter conhecimento sobre a lógica do jogo, os seus princípios estruturais, para através das ferramentas que o treinador tem à sua disposição fazer crescer os homens que jogam.'' 

António Barbosa esteve esta época ao serviço da equipa sub-23 do FC Famalicão antes de rumar ao CD Trofense. Na formação, treinou no clube onde se encontra actualmente, e também no Vilaverdense F.C. entre outros clubes, batendo vários recordes em diferentes equipas. Na época 2015/2016, venceu ao serviço da Prozis Academy a Série B da 1ª Divisão da AF Braga, subindo de divisão e batendo vários recordes da competição. Ao serviço do Vilaverdense,atingiu na época 2017/2018 os oitavos-de-final da Taça de Portugal, onde viria a ser derrotado em Alvalade pelo Sporting CP, batendo vários recordes da competição. No campeonato, conseguiu o apuramento para a fase final do Campeonato Nacional de Seniores. Foi cinco vezes o melhor ataque da competição onde competia e três vezes o melhor ataque do pais.



 Figura 1- António Barbosa e a equipa
da 
Prozis F. Academy depois de uma vitoria de 0-17.

Modelo de jogo

A opção em recorrer a sistemas de modelação permite em primeiro lugar uma compreensão mais abrangente, em relação ao saber, saber fazer ou até ao saber refletir. Por outro lado, durante a realização das tarefas (os jogos ou os exercícios de treino) os executantes podem aferir a eficácia da ação, dando certeza e confiança às tarefas a realizar.
A compreensão e perceção do jogo é claramente ambígua para os seus intervenientes. Nesse sentido, modelamos o jogo para o tornar comum e compreensível, para os que cooperam entre si (equipa) vençam as suas dificuldades e as dificuldades colocadas pelos outros (adversários).
No que se refere à ideia de jogo do treinador, ou dos treinadores, é comum ouvir ou ler que o treinador pretende:                                                                             
Figura 2 - António Barbos e João Dias ao serviço da Prozis Academy.
 - Elevada atitude tácita;                                                                        
- Cultivar a posse de bola;                          -Agressividade defensiva;
- Grande fluidez nos métodos de jogo ofensivos e defensivos;
- Criatividade e mobilidade ofensiva;                
Da nossa experiência, temos grandes dúvidas em que face aos objetivos instituídos pelos clubes, os treinadores tenham espaço temporal, e recursos humanos capazes de sistematicamente se sobreporem aos adversários e imporem um modelo de jogo territorial e de elevada dificuldade de execução. As nossas vivências conduziram ao seguinte ponto: quando disputamos jogos ou campeonatos entre equipas com capacidades competitivas semelhantes, aquela que tiver um modelo de jogo que melhor potencia as capacidades dos seus jogadores, está mais próxima de vencer. Neste contexto, faz falta elasticidade e constante capacidade de evolução.             
Na génese do modelo de jogo adotado deve a tríade - onde se desenvolve o processo de treino, as caraterísticas dos jogadores e os objetivos definidos - procurar descriminar quais os comportamentos adequados para atingir os objetivos propostos. Este espaço de criação de um modelo de jogo deve ser reflexivo.

Sistema tático adotado

Evidenciamos na evolução dos sistemas tácitos duas tendências:
- Um aumento gradual do número de jogadores envolvidos no processo defensivo.
- Os sistemas táticos são também eles fruto da cultura das massas, ou seja, quando uma equipa tem sucesso verifica-se a prolificação deste mesmo sistema, independentemente das caraterísticas dos executantes e contextos competitivos onde estão inseridos.
Figura 3 - António Barbosa durante o jogo C.D. Trofense SDUQ 0 Vs 0 Lusitânia de Lourosa F.C.
Os sistemas de jogo são fortemente influenciados pela interação entre as adversidades causadas e a capacidade de cooperamos, e é operacionalizado pela autonomia dos jogadores que produzem diversidade e singularidade ao sistema, que ainda que possa ser igual é sempre diferente porque os “atores” que o lhe dão vida também o são.

A escolha de um sistema tático deve potenciar os jogadores que constituem o plantel, através de um conhecimento prévio e possibilitando a correta execução do mesmo durante os jogos. 
Enumeramos alguns aspetos a considerar na escolha do sistema tático:
- Ocupação equilibrada do campo de jogo;
- Congruência do sistema tático e modelo de jogo;
- Conhecimento dos aspetos táticos dos jogadores da equipa;
- Favorecer a criação de superioridade numérica nos centros de decisão de jogo;
- Facilitar o reconhecimento do papel a desempenhar pelo jogador, em qualquer instante do jogo.      
- Conhecimento das atuais tendências do sistema tático;

Caraterização do modelo de jogo adotado

Existem várias visões e abordagens para a caraterização do modelo de jogo adotado (Mja). Contudo, neste processo é fundamental que o treinador perceba e respeite as limitações dos marcos teóricos. Como exemplo, recorremos ao modelo conceptual de organização da dinâmica do jogo de futebol de Barbosa (2013).
Figura 4 - Modelo conceptual de organização da dinâmica do jogo de futebol Barbosa (2013). 



Figura 5 - António Barbosa ao serviço do Vilaverdense FC durante o jogo dos oitavos de final ta Taça de Portugal, Sporting CP 4-0 Vilaverdense FC
Caraterísticas específicas do jogo


Processo defensivo
O comportamento das equipas é diferente atendendo à zona de campo onde se encontram (Barbosa, 2014).
Nos processos defensivos as possibilidades de arriscar o desarme diminuem à medida que nos aproximamos da baliza que defendemos. Neste sentido, e respeitando os processos defensivos que a equipa pode realizar, consideramos importante delimitar zonas e ações genéricas de atuação.          Existem fatores que podem validar comportamentos de maior risco, em zonas onde não pretendemos que ele exista, tudo dependendo do contexto. Estes e outros itens comportamentais são apenas referências.
Figura 6 -António Barbosa apresentação plenária no World                                                                                                       Congress of Performance Analysis -  University Of Worcester.


Conceitos norteadores dos momentos de jogo do modelo de jogo adotado

Independentemente dos títulos utilizados para descriminar o jogo,
 acreditámos que o modelo de jogo de uma equipa deve orientar-se por princípios gerais de ação.
- Os princípios:
- Atitude tática /estratégica consistente;
- Fluidez na transição dos momentos.
- Fundamento Prático:
  - Como explorar o modelo de jogo adotado de acordo com o adversário;
  - Cooperar para vencer a oposição.                 
- Fundamental:
  - Com posse de bola procurar atacar sempre a baliza adversária;
  - Sem posse de bola primeiro defender a baliza, depois recuperar a posse de bola.
- Ideologia:
- Quando temos a bola, produzir um futebol veloz criativo que procura marcar golo;
- Quando não temos a posse de bola, baixar o ritmo de jogo do adversário e tornar o jogo repetitivo.
O mais importante é perceber como podemos colocar os conceitos ao serviço da transformação das ideias e das práticas, reforçando os nossos pontos fortes e explorando os pontos fracos dos adversários (Barbosa, 2014)
Figura 7 - António Barbosa durante o jogo treino F.C. Famalição SAD Sub 23 4  Vs 0 Lank F.C.  


Rotinas tático-estratégicas a implementar

Com a criação e implementação da rotina tático/estratégica, procura-se descriminar de forma clara o funcionamento comportamental da equipa e de cada jogador. Neste âmbito abordamos as rotinas tático-estratégicas fundamentalmente para dois momentos do jogo onde há maior padronização, organização ofensiva e organização defensiva. Para os momentos de transição e bolas paradas, fruto da sua menor duração, aplicamos em contextos específicos de funcionamento, desenvolvendo trabalho de rotinas.
Figura 8 - António Barbosa no final do jogo da terceira eliminatória
 da Taça de Portugal Vilaverdense F.C. 1 Vs 0 Boavista F.C.
Pretendemos desenvolver a comunicação operativa e através da prática deliberada consolidar a fluidez comportamental da equipa, descriminando o âmbito da intervenção de cada jogador e todos ao mesmo tempo. Procura-se a uniformização de comportamentos, a automatização de mecanismos vitais ao funcionamento da equipa, aumentando a sua eficiência coletiva. Assim, será ideal que as ações levadas a cabo pelos jogadores sejam antecipatórias de um método de jogo.
Figura 9 - António Barbosa com a equipa, na preparação das grandes penalidades, do jogo a contar para os   oitavos da taça de Portugal F.C. Vizela SAD 4 Vs 6 Vilaverdense F.C. (apos G.P.)
Principais funções dos jogadores de acordo com o momento de jogo

Consideramos que em muitas equipas/clubes existe uma grande dificuldade em ter os jogadores que se pretendem, fundamentalmente pelas limitações económicas e disparidade de orçamentos.
A capacidade de observação, seja através de análise quantitativa, ou através de análise qualitativa, deve promover uma reflexão que ajude os homens e a equipa a identificarem o que cada jogador pode acrescentar. Consideramos que esta reflexão entre os homens que fazem parte da equipa e as funções que são capazes de desempenhar, deverá ser o ponto de equilíbrio e mutação neste ponto.
É bastante comum na transição júnior/sénior ou mesmo na transição entre clubes, o jogador não se conseguir adaptar ao contexto, mas fundamentalmente não se conseguir adaptar aquilo que o treinador pede. Estará o treinador a pedir aquilo que o jogador está disposto a dar? Por outro lado, o fator tempo/resultado condiciona muitas vezes aquilo que seria possível, a comummente descriminada por “paciência” com os jogadores. O treinador tem também ele tempo a dar ao jogador para que cresça e ultrapasse o seu potencial esperado?

Treino como elemento formador do modelo de jogo  

Treinar não é impor ideias a ninguém, mas dar meios de expressão à capacidade criadora e de transcendência dos jogadores (Manuel Sérgio, in Barbosa, 2014).
Figura 10 - António Barbosa com treinador da equipa de iniciados
 do C.D. Trofense festejo do golo 100.


Os treinadores dos desportos coletivos, independentemente da modalidade desportiva, têm evidenciado a necessidade de construção de métodos de treino mais capazes de aperfeiçoar e desenvolver os seus praticantes. Com esse propósito verifica-se a preocupação de respeitar a lógica específica das diferentes modalidades, associando uma orgânica correspondente às necessidades da modalidade praticada.
A aprendizagem de uma identidade, modelo de jogo, exige o reconhecimento das individualidades que compõem a equipa. O modelo de treino, operacionalizado pelo treino de campo proporciona um processo de interação nas mais variadas escalas e princípios, permitindo que os jogadores vivam e acumulem experiências em conjunto através dos exercícios propostos. João Aroso (Barbosa,2014) afirma: “Através do treino, nós vamos construir a forma de jogar pretendida; jogamos, observamos o jogo e identificamos o que está de acordo ou não está e, o que não está, vamos corrigir. Como corrigimos? Corrigimos de duas formas: ou através do treino, cá está o treino novamente, ou através de comunicação com o jogador ou jogadores... É importante que se pense no treino fundamentalmente dirigido, para se construir a forma de jogar pretendida. Sem nenhuma espécie de fundamentalismo, a parte substancial do treino, numa modalidade coletiva, tem que estar dirigida para a construção da forma de jogar… Para mim, o fundamental para que as coisas funcionem… é que o processo de ensino aprendizagem do jogo seja bem abordado e seja eficaz.”
Figura 11 - António Barbosa em entrevista a FamaTv 
depois do jogo treino F.C. Famalicão Sad 3 Vs 3 S. C. Espinho.
O Modelo de Jogo Adotado (Mja), considera a tipologia dos jogadores e os diversos condicionalismos da equipa. Referimo-nos especificamente à técnica-tática-estratégia. A definição de um modelo de treino e seu constante ajustamento permita o desenvolvimento da equipa evitando a sua estagnação. Com os exercícios que expomos, procuramos otimizar as relações estabelecidas entre jogadores, com foco nas atitudes e comportamentos definidos no Mja. Cabe a cada treinador, na aplicação dos exercícios, verificar comportamentos e atitudes que possam desenvolver e ser adicionadas ao modelo, criando e reformulando os exercícios.
Neste contexto de treino, para Duarte Araújo: “O que o treino faz é ensinar os indivíduos a influenciar o seu próprio desempenho.” 

Tipologia dos exercícios na criação de um modelo de treino

Quanto maior a congruência entre o processo de treino e as ocorrências no jogo melhores serão os resultados obtidos (Barnes, Archer, Hogg, Bush, & Bradley, 2014)
Face àquilo que o jogo é, os seus objetivos, e as dificuldades que advém da oposição, pensamos que jogar bem representa a capacidade de solucionar os problemas de jogo recorrendo à capacidade técnica individual inserida numa tática que simboliza a ideia coletiva. Com este ponto de partida, procuramos jogar melhor através do autoconhecimento, ou seja, o conhecimento individual no coletivo e coletivo no individual.

Figura 12 - António Barbosa durante um treino ao serviço do Vilaverdense F.C.

O principal meio que o treinador possui para passar a sua ideia de jogo é o treino, e dentro deste, o exercício enquanto fundamento aquisitivo do modelo de jogo adotado. É no contexto motor que o jogador deve ser capaz de, perante uma adversidade, produzir resposta adequadas, saber fazer. A linguagem necessária para o sucesso é motora.
O treino é um processo formativo-pedagógico que procura correlacionar as ações motoras possíveis, conhecidas ou desconhecidas à partida, com os princípios e sub-princípios do modelo de jogo. A repetição incide sobre a tarefa desejada, dentro de modelo de jogo adotado. O exercício ou exercícios procuram orientar os comportamentos, através da apresentação de diferentes estímulos. Busca-se a repetição refletida, onde cada jogada é diferente da anterior (Barbosa, 2014).  
Procuramos recorrer à força dos bons hábitos através do comportamento vivido. Percebemos que os bons hábitos são uma fonte de economia de esforço e paralelamente uma fonte de velocidade e fluidez. O exercício de treino é o catalisador que permite mediar o processo, desde a implementação do Modelo de Jogo Adotado até a sua consolidação.
Com este propósito, deveremos dominar os níveis de relacionamento de e entre os jogadores. Estamos a falar da dimensão de criação das sinergias entre os jogadores de uma equipa. Para aplicar na prática a ideia de jogo, os princípios de jogo devem nortear as sinergias estabelecidas entre os jogadores.
No que se refere a operacionalização da ideia de jogo, a maior ou menor eficácia verificada no jogo depende em grande parte da escolha acertada dos exercícios. Estes são um meio importante para a elevação da performance desportiva. O exercício de treino deve promover a orientação dos comportamentos em torno da tarefa. Pretende-se sistematizar um pensamento com fundamento lógico, ou seja, a orientação da ação motora não de forma sistemática, mas sim de forma orientada, uma vez que no jogo de futebol constatamos enúmeras possibilidades validas para o desenvolvimento da mesma ação. 
Figura 13 - António Barbosa durante um treino
ao serviço do C. D. Trofense SDUQ
Sempre que possível deve-se procurar antecipar os efeitos da aplicação de um exercício, ou exercícios, no rendimento do jogador, ou conjunto de jogadores, e equipa (a isto vulgarmente chama-se experiência). Para este fim, devemos estudar o processo de treino, avaliando a relação que o conjunto de exercícios teve sobre a equipa e os jogadores, e procurar perceber se o caminho percorrido auxiliou a obtenção da tarefa. 
O exercício atua sobre a totalidade do jogador, numa abordagem holística. Desenvolvendo o saber estar e o saber fazer.
Por último, na escolha dos nossos exercícios, temos sempre em mente uma frase chave “keep it simple” (KIS). Mantém os exercícios simples, os homens fazem o resto.
De seguida expomos uma proposta de estruturação da complexidade dos exercícios de treino do jogo de futebol.
Apesar de apresentamos a nossa proposta de estruturação e complexidade dos exercícios de treino, na conceção deste livro, consideramos util a descrição de alguns exercícios relacionados com dimensionalidade abrangente do treino de futebol e a sua progressão.

Variáveis a manipular e implicações nos exercícios de treino

A função das variáveis nos exercícios dimensionalidade abrangente do treino de futebol, é promover a significância da informação, focando o desempenho dos jogadores atendendo a diferentes aspetos, refletindo sobre o instante, o executante-contexto-tarefa, onde o jogador desenvolve possibilidades de ação.
A manipulação das variáveis é uma potência disponível para o mais adequado desenvolvimento dos jogadores e da equipa nos respetivos processos de afinação e calibração. Neste sentido é fundamental o correto conhecimento das variáveis a aplicar e das “respetivas” consequências. Mais do que copiar exercícios desenhados por outros treinadores, o treinador ou equipa técnica, deverá ser capaz de desenhar exercícios que atendam às necessidades individuais e coletivas dos jogadores, respeitando o contexto, e conduzindo os jogadores ao longo de um caminho de crescente dificuldade. A criação de um exercício surge das necessidades específicas de uma determinada equipa atendendo ao contexto.
Neste sentido mais do que copiar os exercícios desenhados por pares, o treinador deverá saber criar os exercícios que satisfazem as necessidades próprias de um determinado jogador e da equipa em geral.
Para o processo de criação deverá ser predefinido que objetivo (s) visa promover e desenvolver, delinear uma progressão na dificuldade e complexidade. Como ponto de partida pensamos que é vital o conhecimento do impacto das variáveis de manipulação nas ações levadas acabo pelos jogadores e equipas (as mesmas deverão ser estudadas atendendo ao conjunto de jogadores em questão). “
  
Com este pequeno excerto do livro, procuramos passar aos amantes do futebol, algumas das reflexões e intervenções que fazemos. Pretendemos criar um manual de reflexão e intervenção para os jovens treinadores.
Editora Escola Superior de desporto e Lazer (ESDL). Podes encomendar o teu exemplar para geral@esdl.ipvc.pt, ou comprar na Biblioteca da ESDL.

Figura 14 - António Barbosa durante um treino ao serviço do C. D. Trofense SDUQ.

















                 

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