Avançar para o conteúdo principal

O que aconteceu no Feirense-Sporting

Foi ontem, num jogo que parecia difícil muito graças à postura defensiva do Feirense, que o Sporting se apurou para as meias-finais da Taça de Portugal, com golos de Wendel e Bruno Fernandes num espaço de 3 minutos.
Contudo, o meu objetivo não é nem nunca foi cingir-me a números, mas sim ao jogo em si produzido. Deste modo, debrucei-me ao que foi, de facto, a partida entre as equipas orientadas por Nuno Manta Santos e Marcel Keizer.


Primeiramente, um olhar para o papel de Mathieu. É sem dúvida um dos melhores centrais a atuar em Portugal. Bom no cabeceamento, no desarme, muito rápido (quem diz que ele tem 35 anos?) e uma qualidade incrível no transporte e passe para um central. Neste jogo, foram algumas as vezes que ajudou a desequilibrar o lado esquerdo, oferecendo opções e criando jogadas. Esse foi um dos aspetos importantes no jogo do Sporting: a maior largura dos centrais, mais de Mathieu pela esquerda, que assim ofereceram mais soluções para a circulação de bola de modo a combater o bloco baixo do Feirense. Neste vídeo, deixo alguns exemplos:


Outro aspeto, que já acima referi, foi o bloco médio-baixo do Feirense. O clube de Santa Maria da Feira baixava as linhas, de maneira a que até o ponta de lança se encontrava no seu meio-campo. Deixavam os centrais do Sporting circular bola e apenas procuravam condicionar o jogo quando a bola entrava ou nos extremos ou nos médios interiores, Wendel e Bruno Fernandes. Para além disso, os jogadores da equipa da casa pareciam não ter grande interesse em chegar à área adversária, preferindo simplesmente estar em processo defensivo. Estes aspetos são visíveis no vídeo que se segue:


Para além da falta de preocupação ofensiva enquanto o resultado esteve 0-0, o Feirense nunca procurou sair a jogar. Em vez disso, o guarda-redes optou sempre por jogar longo na defesa adversária, sempre sem resultado assinaláveis que permitissem criar perigo a Salin. Deste modo, a equipa de Nuno Manta Santos não criava qualquer tipo de preocupação para o Sporting no que ao processo ofensivo diz respeito.


Agora um aspeto curioso. Sabem o que aconteceu na primeira vez que o Feirense tentou, de facto, jogar com algum critério? A defesa desposicionou-se, as linhas avançaram e, após a perda de bola, Wendel conseguiu em condução chegar ao último terço sem grande oposição, possibilitando o remate. Apesar do golo se dever à capacidade individual do brasileiro, até que ponto Nuno Manta Santos não terá ficado pensativo com esta situação uma vez que, ao procurar jogar, viu um golo sofrido como resultado?


Por último, a reação do Feirense após sofrer o segundo golo. Parecia uma equipa nova. Começaram a tentar jogar, desinibindo-se da postura meramente defensiva, e chegaram a criar situações de perigo, fruto da pressão alta mas também do sentimento de já não ter nada a perder. Tiveram oportunidades para empatar a partida. Se por um lado a atitude de relaxamento do Sporting possibilitou ocasiões para o Feirense, também é verdade que estes mostraram que o resultado poderia ter sido diferente. Pena foi que a equipa de Nuno Manta Santos não tenha demonstrado a mesma capacidade de criar perigo ao longo dos 90 minutos. O resultado poderia ter sido diferente.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Futebol: Como Criar e Treinar um Modelo de Jogo

O texto que se segue é parte transcrita do livro: Futebol Como criar e treinar um modelo de jogo “No mais simples e recôndito sítio onde se joga um jogo de futebol, está escondido um fenómeno complexo de relações e ações. Curioso será perceber que estas relações e ações poluem a perceção e conhecimento possível sobre este mesmo jogo.   Independentemente das caraterísticas do jogo consideramos que é fundamental ter conhecimento sobre a lógica do jogo, os seus princípios estruturais, para através das ferramentas que o treinador tem à sua disposição fazer crescer os homens que jogam.''  António Barbosa esteve esta época ao serviço da equipa sub-23 do FC Famalicão antes de rumar ao CD Trofense. Na formação, treinou no clube onde se encontra actualmente, e também no Vilaverdense F.C. entre outros clubes, batendo vários recordes em diferentes equipas. Na época 2015/2016, venceu ao serviço da Prozis Academy a Série B da 1ª Divisão da AF Braga, subindo de divisão e

Jogar contra a idade com competência

Ricardo Afonso tem 23 anos. É treinador UEFA B e licenciado em treino desportivo. Conta já com 8 anos de experiência entre futebol de formação e futebol sénior. Na época 2020/2021, foi treinador adjunto do Sporting Ideal. Na época seguinte, assumiu o comando do GD São Roque, dos Açores, tendo-se estreado com 22 anos como treinador principal na Taça de Portugal, no jogo GD São Roque - SC Farense. Acredito que no futebol só pode existir um sentimento, uma ideia... Ganhar! Todos procuram ganhar, todos procuram a positividade seja em que contexto for, esse fator é a parte fácil da questão... A conquista do grupo e dos adeptos, a liderança sobre o grupo, o estado de espírito, o implementar de uma cultura de vitória e exigência diária, as motivações e ambições e expectativas de todos é a parte desafiante. Acredito que a minha passagem pelos Açores foi extremamente desafiante, aos 22 anos integrar uma equipa técnica de Campeonato de Portugal em zona de descida onde era preciso ganhar e depois

A importância da fase defensiva

Bernardo Maia começou como treinador adjunto nos sub15 do São João de Ver, tendo logo nesse ano subido à 1ª Distrital. No seu percurso, sempre ligado ao clube, e onde passou por escalões de futebol de 7 e de 11, fez parte da equipa técnica dos sub19 que foi finalista vencido da Taça de Aveiro (19/20), para além de ter sido treinador adjunto dos seniores, tanto no Campeonato de Elite de Aveiro, como no Campeonato de Portugal (20/21). Atualmente, é treinador principal dos sub19 do São João de Ver, tendo na época transata atingido o 3º lugar da 1ª Distrital, bem como a final da Taça de Aveiro. Apesar de não existir uma teoria que seja consensual no mundo do futebol, segundo a maioria dos investigadores deste desporto, bem como os demais intérpretes do mesmo, o jogo é composto por duas fases: a fase ofensiva e a fase defensiva. Inerente às fases do jogo estão cinco momentos: organização ofensiva, transição ofensiva, organização defensiva, transição defensiva e os esquemas táticos, tamb