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Treinar em divisões mais baixas: que desafios?

António Silva fez todo o seu percurso de treinador no Futebol Clube Bom-Sucesso. Passando por todos os escalões de formação desde os sub-7, subiu à 1ª divisão distrital de Aveiro ao serviço da equipa de sub-15 da Dragon Force/Futebol Clube Bom-Sucesso. Na época 2017/2018, nos sub-17, que militam na 2ª divisão aveirense, chegou às meias-finais da Taça de Aveiro.Com II Nível/UEFA B, tem atualmente a cargo duas equipas do clube: juniores e seniores.

É possível fazer um bom trabalho técnico-tático sendo treinador de uma equipa que milite na última divisão distrital? Conseguirá um treinador transmitir as suas ideias e impor a sua metodologia de treino neste contexto amador?
Não consigo dar uma resposta a ambas as questões. A única coisa que sei, enquanto treinador desta realidade, é que é muito exigente e difícil, levando muitas vezes a colocar tudo em causa, incluindo o nosso trabalho e dedicação, mesmo não estando diretamente dependente da competência do treinador em causa, mas sim de toda a “envolvência colateral”, que impede o sucesso do trabalho idealizado. Quando falo de “envolvência colateral”, refiro-me ao facto de termos, na maioria das vezes, um plantel composto por atletas de qualidade, mas amadores, para quem o futebol é apenas um hobbie e, quando assim é, as suas vidas profissionais estão, naturalmente, em primeiro lugar.
Muitas vezes, estes atletas necessitam de faltar a treinos ou jogos, assim como os atletas que estudam, o que os obriga, numa altura de frequências/exames, a deixarem um pouco o futebol de lado para se dedicarem com outro foco àquilo que será seu futuro: uma licenciatura, doutoramento ou mestrado. Perante estas vicissitudes, cabe a nós, treinadores, percebermos ambas as situações, pois estamos a falar, repito, de um contexto amador.
Voltando às perguntas colocadas no início deste artigo, e tentando de alguma forma arranjar respostas para as mesmas, aquilo que nos entristece, enquanto líderes de uma equipa nestas condições, é o facto de muitas vezes fazermos um plano treino, enquadrado num microciclo que termina no jogo de domingo, que visa trabalhar uma estratégia previamente idealizada para tentar ultrapassar o próximo adversário, e nunca aparecerem todos os atletas, para que estejam todos dentro do processo. Como conseguimos passar as nossas ideias para dentro dum grupo de trabalho onde as ausências aos treinos são constantes? Como consolidar um processo se, num domingo, conseguimos ter todos os atletas disponíveis, e no fim-de-semana seguinte, por questões profissionais, não os temos todos disponíveis para dar continuidade à consolidação do processo?
Custa muito, porque um treinador que tenta ter algum brio “profissional”, perde tempo a idealizar, preparar e elaborar os planos de treino para que tudo corra pelo melhor, tendo em conta a periodização que defende, promovendo a intensidade e a competitividade dentro do próprio treino. Tal situação torna-se inglória, e por vezes provoca mesmo um sentimento de impotência de conseguir fazer melhor, pois não nos podemos esquecer que cada atleta vive do seu orçamento familiar que não é alcançado à base do futebol, bem como os estudantes que lutam pelo seu futuro através do seu percurso académico. Que pode um treinador fazer perante este quadro? Se calhar, fazer única e exclusivamente o seu melhor e adaptar-se à realidade que aceitou e apelando à sua própria condescendência e compreensão. Sobretudo, para nós treinadores, importa não desmoralizar, continuando a acreditar que é possível fazer um bom trabalho, mesmo com todas estas adversidades. Ter esta sensibilidade, também é ser treinador.
AS

Comentários

  1. Very interesting to hear about the challenges, and observations of a district coach in Portugal. Similiar to some of the challenges we face in our clubs in the U.S.A.

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