André Teixeira está há 12 anos ligado à formação do Feirense como treinador. Atualmente nos iniciados, conta no seu currículo com os títulos de campeão distrital de sub-9, sub-10 e sub-11, para além de um campeonato e taça distrital em juvenis. A juntar aos títulos, tem algumas passagens à segunda fase de provas nacionais ao serviço de iniciados e juvenis do Feirense.
Dentro de uma perspectiva social, todo o desenvolvimento de um atleta, treinador e pais mais
otimistas pode ser afetado, de alguma forma, pela intrigante abordagem do
futebol baseado em resultados e na sua importância no processo de formação.
Para todos os jovens e futuros
futebolistas, o desenvolvimento inicial é fundamental na busca pela excelência
e na promoção das suas carreiras à medida que vão amadurecendo. Os alicerces
que são estabelecidos em jovens futebolistas ainda em idade precoce afetam
significativamente o seu futuro dentro do jogo, para além do seu possível futuro
enquanto atletas profissionais. Com isto não quero dizer que os jogadores que
iniciam a sua atividade futebolística mais tarde não se possam tornar profissionais, mas é claro que quem aprende o ofício mais cedo terá maior margem para aperfeiçoar as suas apetências. Isto
deve-se à incrível aquisição de habilidades e capacidades de aprender e
assimilar numa idade jovem. A maioria dos treinadores e dos pais não tem
consciência de tal, mas as crianças em idades mais baixas conseguem aprender aquilo que lhes oferecemos de forma mais rápida, tendo elas também a capacidade de as reter. Elas aprendem em velocidades
notáveis e o futebol não é diferente. Assim, quanto mais tempo, maior a janela
de crescimento. O desenvolvimento inicial e a formação inicial dos técnicos
desempenham um papel fundamental para o futuro dos jogadores e as para as suas
carreiras dentro do jogo.
Como o futebol é um desporto
coletivo, esta tarefa torna-se cada vez mais difícil de influenciar. O futebol
não é como o ténis ou a natação ou qualquer outro desporto individual, ou seja, o
processo de treino raramente é individualizado ou personalizado. Em idades
precoces, raramente existe um treinador trabalhando com um atleta
em particular para melhorar a sua técnica, ao contrário do que acontece nos desportos individuais. Tal facto cria enormes
lacunas nas habilidades do jogador, nos níveis de habilidade e na qualidade
geral. Consequentemente, surgem problemas. Como os jogadores têm de treinar em
equipas e trabalhar de forma coesa com os seus colegas e dentro dos seus papeis
designados, a percepção percebida dos treinadores é que não existe espaço ou
maneira de colmatar essas lacunas. Os jogadores com qualidade superior são
assim favorecidos e não há maneira plausível de os outros poderem acompanhar
quando não é esse o caso. Alguns jogadores podem ser naturalmente mais
talentoso, nada contra, mas o talento não é nada sem ser moldado, guiado e
aperfeiçoado. O que acontece maioritariamente dos casos é que, em vez de o treinador procurar que todos os atletas tenham o mesmo
nível, deixam enormes lacunas de qualidade e tentam produzir um estilo de
futebol ou impor uma filosofia quando, na verdade, eles não têm jogadores na verdadeira acepção da palavra.
O risco potencial de interromper ou atrapalhar o
desenvolvimento de um jogador de idade jovem está assim iminente, pois ele não
sabe o que fazer de outra forma que não a que o treinador lhe indicou. Com isso, eles desenvolvem maus hábitos que nunca são erradicados, o que, por sua vez, produz um nível mais fraco de jogador de futebol à medida
que cresce. Este é o tamanho do impacto que os treinadores têm quando
desenvolvem jogadores de futebol.
Depois de sabermos quão cruciais são os
estágios iniciais de desenvolvimento jovem, tentarei analisar o ponto de foco
original, o futebol baseado em resultados e qual a importância destes no processo de formação dos atletas. Em termos mais simples, este é
o objectivo de um treinador ao desenvolver jogadores jovens.
Eles jogam para ganhar? Ou eles
jogam para formar e desenvolver, não importando a classificação?
Isso pode ser fácil de responder,
considerando os pontos acima sobre a importância do desenvolvimento, mas há
também outros aspetos e mitos que temos que ter em consideração. A resposta a
essa pergunta e o caminho que se deve seguir é fácil e claro: o
desenvolvimento e a formação devem vir
sempre em primeiro. No entanto, não devemos pensar
nelas como facetas separadas, mas sim como uma ligação.
Está tudo bem ao ensinar aos
jogadores de futebol que, se dominarem um jogo e jogarem melhor que a equipa
adversária, é aceitável perder? É correto ensinar aos jogadores de futebol que
jogar bem individualmente é mais importante que ganhar um jogo coletivamente?
Os objetivos da equipa são mais importantes que os individuais? A resposta a
estas perguntas pode ser simples para uns e difíceis para outros, mas
uma coisa que elas nos podem dar é uma perspetiva diferente sobre o que cada um
pensa sobre o futebol de formação.
Os resultados não são mais importantes do que o
desenvolvimento dos jovens, no entanto, ainda é criticamente importante. Ainda
é extremamente vital no desenvolvimento de alguém. Isso pode não ter nada a ver
com habilidades, mas sim com as mentalidades. Se ensinarmos aos jogadores que é
certo dominar um jogo, mas ainda perder, estamos criando e produzindo jogadores
que não são vencedores, que aceitam a mediocridade, que serão possivelmente
fracos mentalmente. Se desenvolvermos jogadores que acham que é bom vencer
apenas por um golo de diferença quando é possível vencer por mais golos, não
estamos a desenvolver um instinto de superação. Isso pode parecer inútil para
um jovem jogador de futebol, mas são esses hábitos que estamos a ignorar que podem prejudicar as suas carreiras à medida que
crescem. Às vezes caímos na monotonia de que o desenvolvimento de habilidade é
apenas suficiente, em vez de trabalhar outros aspetos ou pensar fora da caixa,
não tendo uma abordagem holística. Mentalmente os jogadores precisam de tanto
trabalho como fisicamente. Afinal, é um jogo de raciocínio e inteligência que evolui à
medida que estes avançam nas etapas de futebol enquanto competição. A mente pode
ser uma poderosa arma que não deve ser algo reativo, mas sim proativo. Estes são alguns
aspetos no desenvolvimento de jogadores dos quais temos de estar consciente,
porque jogar bom futebol mas perder todas as semanas poderá ser prejudicial
para os jovens futebolistas a longo prazo sem nos apercebermos. Ninguém gosta
de perder, ninguém joga para perder, e isso é algo que todos nós devemos estar cientes
e abordar da maneira correta. É sobre encontrar um equilíbrio e manter os
jogadores felizes.
Isto leva-me ao próximo ponto: por alguma razão bizarra, à
medida que envelhecemos e o jogo se torna mais competitivo, sendo que o cenário se
torna maior, afastamo-nos completamente do desenvolvimento e focamo-nos apenas nos
resultados. As equipas estão completamente focadas em ganhar, e não em qualquer
outra coisa. Isso pode ser o resultado de muitas coisas. Aí, o importante já é a competição, e não o desenvolvimento do atleta.
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