A importância que damos aos momentos do jogo e à forma como
os queremos explorar revela muito do que é o nosso modelo de jogo. Desta forma é
inegável que o 5º Sub-momento (chamadas “bolas paradas” ou esquemas táticos)
terá de fazer parte desse mesmo modelo de jogo porque faz parte do mesmo. No entanto, na minha opinião, tudo depende da intencionalidade do
treinador em abordar este momento do jogo e de o priorizar mais ou menos em
relação a outros.
Sou da opinião de que tudo aquilo que remete para o modelo de jogo deve ser priorizado e proporcionado, ou seja, priorizar desenvolver determinado momento do jogo e dentro dele princípios e sub- princípios subjacentes, mas nunca em detrimento dos outros momentos, pois vejamos: Em organização ofensiva, por exemplo, a equipa em posse
pode desenvolver os comportamentos pretendidos, no entanto a equipa sem posse
acaba por não estar a desenvolver esse momento, de forma momentânea, claro. Dessa forma, os momentos coexistem no mesmo exercício, embora um claramente contextualizado
e direcionado para o objetivo pretendido, o outro poderá ter uma ou outra
orientação ou não.
Por outro lado, priorizar determinado momento não
necessita obrigatoriamente ter de ser desenvolvido como um só, isto porque todos os
momentos estão ligados entre si. Acrescento até que o exercício é tanto mais
rico e com mais transfer para o jogo, quanto maior for a continuidade desse
mesmo exercício (passando de organização ofensiva -> transição ataque-defesa
–> organização defensiva –> transição defesa-ataque). Com isto, criar um
exercício onde possa hipoteticamente englobar os momentos de organização
ofensiva e transição ataque-defesa de forma sucessiva, enriquece de certa forma
o exercício. Ressalvando claro que, se no entender do treinador, é melhor desenvolver
determinado momento de forma isolada, nada o impede de o fazer. Proporcionar os momentos do jogo não é
mais do que dar a cada momento a importância e a preponderância que lhe
queremos dar no jogo.
Pessoalmente, o 5º sub-momento é de tal forma aleatório
que dar demasiada importância a este momento é acreditar que em todos os jogos
irá haver cantos, livres, o que não é garantido. É provável que eles existam,
mas em que proporção? Será que haverá mais cantos do que remates? Será que irão haver mais livres do que situações de superioridade numérica? Quanto tempo
passamos, de facto, no 5º sub-momento? Será maior do que em jogo corrido? Mais ainda:
dentro deste momento, há inúmeras formas de o desenvolver: numerar jogadas, gestos
identificadores, os famosos livres “à Camacho”, criar movimentações, bloqueios,
etc… E olho sempre para o momento do jogo e questiono sempre: E se o adversário
me anular este movimento? E se a barreira tiver 2 jogadores e eu estava a
contar com mais? E se o adversário anular a zona onde supostamente eu treinei para haver remate
após livre? Serão os meus jogadores capazes de
“resolver”?
A forma como desenvolvo estes momentos está muito na base de
noções simples como ficar livre, o perceber como retirar jogadores de
determinadas zonas, e depois onde o jogador coloca a bola, como remata, acho
que aí a criatividade é capaz de resolver o problema. Em contexto de formação, julgo ser um momento bom para desenvolver isso nas equipas. A capacidade de
criar. Posso afirmar que é possível fazer muitos golos assim, percebendo
situações vantajosas, perceber quem está ”mais livre”.
Por outro lado, posso admitir que algumas foram as vezes
onde estes momentos foram preponderantes para o “insucesso” em termos de
resultado. Mas tudo depende da imagem e da ideia que o treinador quer deixar
perante os seus jogadores. Dar 90% de importância aos esquemas táticos e fazer
dessa forma 3 golos por jogo, ou se prefere dar 90% de importância ao momento
de ter a bola e com isso ter 10/15 oportunidades de golo por parte. A minha
ideia enquanto treinador é clara, controlar o jogo sempre, de preferência com a
bola. E não sinto, de todo, que trabalhar exaustivamente as bolas paradas é ser
coerente com este grande princípio.
Concluindo, dou ao 5º sub-momento a
importância que considero aceitável devido à aleatoriedade durante o jogo mas também pela sua
preponderância não só para o sucesso mas mais ainda para o desenvolvimento dos
jogadores. Assim, prefiro dar uma grande ênfase a jogar, a ter a bola, porque
quem tem a bola controla o jogo, quem não a tem terá de esperar por uma bola
parada para resolver. E mesmo que essa bola parada resolva, nunca irá ocultar
todos os problemas dos restantes momentos. E quem é mais conhecedor de todos os
momentos do jogo como um todo, está preparado para ser melhor jogador, está
preparado para vencer mais vezes na formação, no futuro e na vida.
Muito bem mister concordo contigo. Treinar aquilo que é essencial para que os miúdos um dia possam jogar nas melhores equipas é muito mais importante, certamente que as bolas paradas mudam de equipa para equipa, mas aqueles indicadores de qualidade presentes nas melhores equipas são transversais. Aproveito para dizer que nestas idades, a densidade de disputas no ar é menor naturalmente, sendo que a não definição de momentos curtos pode, por si só, levar a que haja essas disputas... O momento de homem livre também poderá claro, mas a densidade em que aparece em organizacao ofensiva já é grande...
ResponderEliminarParabéns pelo teu trajeto