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A importância das ''bolas paradas'' no contexto de formação


Fábio Santos começou o seu percurso na formação do FC Pedroso, passando ainda pelos escalões jovens do FC Porto, onde chegou a ser coordenador da Dragon Force em Grijó e treinador no Canadá, antes de chegar aos Benjamins do SC Braga, cargo que atualmente ocupa. Nesta época, venceu a sua série de forma invicta.


A importância que damos aos momentos do jogo e à forma como os queremos explorar revela muito do que é o nosso modelo de jogo. Desta forma é inegável que o 5º Sub-momento (chamadas “bolas paradas” ou esquemas táticos) terá de fazer parte desse mesmo modelo de jogo porque faz parte do mesmo. No entanto, na minha opinião, tudo depende da intencionalidade do treinador em abordar este momento do jogo e de o priorizar mais ou menos em relação a outros. 
Sou da opinião de que tudo aquilo que remete para o modelo de jogo deve ser  priorizado e proporcionado, ou seja, priorizar desenvolver determinado momento do jogo e dentro dele princípios e sub- princípios subjacentes, mas nunca em detrimento dos outros momentos, pois vejamos: Em organização ofensiva, por exemplo, a equipa em posse pode desenvolver os comportamentos pretendidos, no entanto a equipa sem posse acaba por não estar a desenvolver esse momento, de forma momentânea, claro. Dessa forma, os momentos coexistem no mesmo exercício, embora um claramente contextualizado e direcionado para o objetivo pretendido, o outro poderá ter uma ou outra orientação ou não. 
Por outro lado, priorizar determinado momento não necessita obrigatoriamente ter de ser desenvolvido como um só, isto porque todos os momentos estão ligados entre si. Acrescento até que o exercício é tanto mais rico e com mais transfer para o jogo, quanto maior for a continuidade desse mesmo exercício (passando de organização ofensiva -> transição ataque-defesa –> organização defensiva –> transição defesa-ataque). Com isto, criar um exercício onde possa hipoteticamente englobar os momentos de organização ofensiva e transição ataque-defesa de forma sucessiva, enriquece de certa forma o exercício. Ressalvando claro que, se no entender do treinador, é melhor desenvolver determinado momento de forma isolada, nada o impede de o fazer. Proporcionar os momentos do jogo não é mais do que dar a cada momento a importância e a preponderância que lhe queremos dar no jogo.
Pessoalmente, o 5º sub-momento é de tal forma aleatório que dar demasiada importância a este momento é acreditar que em todos os jogos irá haver cantos, livres, o que não é garantido. É provável que eles existam, mas em que proporção? Será que haverá mais cantos do que remates? Será que irão haver mais livres do que situações de superioridade numérica? Quanto tempo passamos, de facto, no 5º sub-momento? Será maior do que em jogo corrido? Mais ainda: dentro deste momento, há inúmeras formas de o desenvolver: numerar jogadas, gestos identificadores, os famosos livres “à Camacho”, criar movimentações, bloqueios, etc… E olho sempre para o momento do jogo e questiono sempre: E se o adversário me anular este movimento? E se a barreira tiver 2 jogadores e eu estava a contar com mais? E se o adversário anular a zona onde supostamente eu treinei para haver remate após livre? Serão os meus jogadores capazes de “resolver”?

A forma como desenvolvo estes momentos está muito na base de noções simples como ficar livre, o perceber como retirar jogadores de determinadas zonas, e depois onde o jogador coloca a bola, como remata, acho que aí a criatividade é capaz de resolver o problema. Em contexto de formação, julgo ser um momento bom para desenvolver isso nas equipas. A capacidade de criar. Posso afirmar que é possível fazer muitos golos assim, percebendo situações vantajosas, perceber quem está ”mais livre”.
Por outro lado, posso admitir que algumas foram as vezes onde estes momentos foram preponderantes para o “insucesso” em termos de resultado. Mas tudo depende da imagem e da ideia que o treinador quer deixar perante os seus jogadores. Dar 90% de importância aos esquemas táticos e fazer dessa forma 3 golos por jogo, ou se prefere dar 90% de importância ao momento de ter a bola e com isso ter 10/15 oportunidades de golo por parte. A minha ideia enquanto treinador é clara, controlar o jogo sempre, de preferência com a bola. E não sinto, de todo, que trabalhar exaustivamente as bolas paradas é ser coerente com este grande princípio. 
Concluindo, dou ao 5º sub-momento a importância que considero aceitável devido à  aleatoriedade durante o jogo mas também pela sua preponderância não só para o sucesso mas mais ainda para o desenvolvimento dos jogadores. Assim, prefiro dar uma grande ênfase a jogar, a ter a bola, porque quem tem a bola controla o jogo, quem não a tem terá de esperar por uma bola parada para resolver. E mesmo que essa bola parada resolva, nunca irá ocultar todos os problemas dos restantes momentos. E quem é mais conhecedor de todos os momentos do jogo como um todo, está preparado para ser melhor jogador, está preparado para vencer mais vezes na formação, no futuro e na vida.

Comentários

  1. Muito bem mister concordo contigo. Treinar aquilo que é essencial para que os miúdos um dia possam jogar nas melhores equipas é muito mais importante, certamente que as bolas paradas mudam de equipa para equipa, mas aqueles indicadores de qualidade presentes nas melhores equipas são transversais. Aproveito para dizer que nestas idades, a densidade de disputas no ar é menor naturalmente, sendo que a não definição de momentos curtos pode, por si só, levar a que haja essas disputas... O momento de homem livre também poderá claro, mas a densidade em que aparece em organizacao ofensiva já é grande...

    Parabéns pelo teu trajeto

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