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Treinar na formação em tempos de pandemia


 João Palavra desde muito novo teve curiosidade pelo papel de treinador. Na época 2016/2017, iniciou-se como treinador adjunto dos petizes da Dragon Force de Aveiro, dando também apoio a outros escalões. Na época seguinte, continuou nessa função, para além de se tornar adjunto da equipa sub-9 elite da Dragon Force Aveiro (FC Porto). Na época 2018/2019, para além do cargo de treinador adjunto dos petizes, exercia a mesma função no escalão de sub-8, onde já teve algumas responsabilidades como treinador principal. No ano seguinte, para além de ser treinador adjunto dos sub-11 elite do clube, assumiu o escalão de sub-9 da Dragon Force Aveiro. Esta época, para além de ser o treinador principal do escalão de sub-11 do Futebol Clube Bom-Sucesso, assume ainda funções de treinador no escalão de sub-17 do clube aveirense.


Evidentemente que todas as condicionantes, que forçosamente nos foram impostas, tiveram repercussões diretas na forma como vemos e planeamos o processo de treino. A impossibilidade de se fazer um simples exercício que pudesse promover o que defendemos no nosso modelo de jogo acaba por ser um pouco frustrante, e torna a missão de um treinador mais difícil. Tive, inevitavelmente, de repensar a minha maneira de ver o treino e a melhor forma de me ajustar perante tais imposições.

Antes do aparecimento da COVID-19, um morfociclo normal para nós implicaria, fundamentalmente e entre outro tipo de variantes, o cumprimento de três princípios: a criação de exercícios que promovessem e fossem ao encontro daquilo que pretendíamos para o “jogar” da nossa equipa, a gestão dos níveis de complexidade que cada exercício oferecia e a garantia do cumprimento da relação esforço-recuperação dos atletas, que está inerente às capacidades motoras que pretendíamos promover em cada sessão de treino. Naturalmente, com a mudança drástica que o processo de treino de uma equipa de futebol de formação sofreu, os pressupostos que eu tinha para a planificação dos mesmos tornaram-se mais minimalistas. Partindo sempre do pressuposto que a evolução técnica do jogador é uma questão inerente a qualquer processo de treino, pessoalmente, as duas principais preocupações passaram-se a focar, sobretudo, no fomento da competição interna e na criação de um contexto de treino apelativo.


É um facto que, tanto no futebol como em qualquer outra modalidade, as equipas são movidas e transcendem-se quando estão inseridas num cenário competitivo. Sentem-se na necessidade de dar tudo o que têm. Essa vontade de ganhar promove o comprometimento com a tarefa e, consequentemente, ajuda à evolução dos atletas. Por isto mesmo, acredito que se deve fazer um esforço para se criar exercícios, jogos, dinâmicas que estimulem a competição interna. Quantos mais momentos de confronto existirem, mais focados e mais envolvidos no processo eles estarão. Obviamente, a criação de um ambiente competitivo é algo que se deve ter sempre em conta; no entanto, neste momento, assume mais importância que nunca, visto que, face às restrições impostas, há mais tendência de na planificação dos treinos os exercícios serem um pouco mais monótonos e menos interessantes (por força da inevitabilidade de se utilizar exercícios que respeitem as medidas impostas). Apesar de ser uma missão difícil, não é algo impossível. Do mesmo modo, também defendo que os treinadores devem estar preocupados em garantir que o seu plano de treino seja o mais apelativo possível para os atletas. Privados de fazerem o que mais gostam, tem de se garantir ao máximo que, apesar de tudo, as sessões de treino sejam um momento em que os mesmos se sintam felizes. Para além dos exercícios em si, implica sermos sensíveis na forma como damos o feedback, a energia e o entusiamo que metemos em cada momento, entre outros aspetos. Apesar do caráter apelativo dos treinos ser uma questão fulcral, seja em que circunstância for, assume atualmente ainda maior relevo. Conseguir com que os atletas estejam satisfeitos é meio caminho andado para desfrutarem do que estão a fazer e não desistirem da modalidade (infelizmente, umas das muitas consequências que a COVID-19 causou).

Apesar de haver mais questões que se deve ter em conta na planificação de uma semana de treinos, para mim, neste momento, face a todas as limitações a que estamos sujeitos, estes são os principais objetivos que os treinadores devem procurar atingir treino após treino. Só assim se poderá garantir que os atletas continuam a praticar a modalidade que tanto gostam. Apesar de ser uma situação complicada e delicada para todos, fica aqui um voto de esperança para que tudo volte ao normal o mais rapidamente possível, para podermos aproveitar o futebol na sua plenitude e tudo o que de melhor nos tem para oferecer.

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