Luís Silva está na sua terceira época como treinador. Sempre ao serviço da Dragon Force Rio Meão, também já trabalhou com o FC Porto como treinador adjunto da seleção nacional Dragon Force sub-6 (para momentos de observação). Este ano, acumula as funções de treinador principal sub-10 da Dragon Force Rio Meão, onde foi campeão da primeira fase, treinador adjunto da seleção nacional Dragon Force sub-14, e ainda adjunto de uma equipa de Elite FC Porto-Traquinas A.
Tratando-se de um tema algo
controverso, a verdade é que o futebol de formação pode (e deve) ser muito
enriquecedor para o futuro de um jogador em muitas variantes, tanto
futebolísticas como outras igualmente importantes.
Existe um grande cliché de
que não é importante vencer em escalões menores. Embora não possa ser o foco
principal em momento algum, trata-se de uma frase que nunca pode ser levada à
letra. Vencer é o que motiva os nossos jogadores a quererem sempre um pouco
mais, quererem mostrar que podem ser melhor que os colegas adversários – sou da
opinião que é possível formar a ganhar, desde que seja um processo coletivo do
qual todos os jogadores façam parte.
Contudo, o que geralmente se
verifica é que os próprios treinadores – geralmente falando – são quem pensam
mais competitivamente, ultrapassando por vezes aquilo que é socialmente
desejável e, inclusive, passando por cima do que realmente interessa: a
felicidade e bem-estar dos nossos jogadores. Acima de tudo, é importante que
todos eles se sintam bem, felizes e motivados. Todos sabem que a imagem do
treinador é algo muito valioso para cada um dos nossos jogadores – em muitos
casos, estes passam mais tempo connosco do que com os próprios pais – e, só
pelo facto de sentirem a confiança de uma pessoa tão importante para eles faz
com que se sintam melhor consigo mesmos.
Esta ânsia pela vitória, ainda
que em escalões que isso não é o mais importante, pode muitas vezes provocar um
certo automatismo, quer em jogo como no processo de treino. É comum estarmos
perante equipas que jogam ao som do seu treinador, mostrando processos muito
mecanizados que em nada favorecem os meninos – ainda que possam ganhar jogos. E
é aqui que devemos ter todo o cuidado do mundo.
Não podemos querer, de todo, que
as nossas equipas sejam robots, em que tudo o que fazem é o que lhes
mando, quase como quem não possui vontade própria. Sou da opinião de que o
treinador, para além de dar soluções, deve também mostrar problemas, criando
situações em que eles se vejam “obrigados” a confrontar os mesmos e a procurar
a sua resolução – e podemos guiar esta solução através do nosso modelo de jogo.
Desta forma, o jogador sente que resolve o problema sozinho (isto é, a pensar
por si próprio) enquanto nós estamos a guiar o pensamento dele para aquilo que
acreditamos que é a melhor forma de jogar. Podemos também ajudá-los através de
um feedback orientador e, ao mesmo tempo, aberto – fazendo com que eles
percebam o caminho que devem seguir, sem ter de ser o treinador a “jogar” por
eles, como se de um jogo de FIFA se tratasse.
A tática é importante para o
futebol de 7, porque é fundamental que os meninos, ainda que muito jovens,
tenham as noções daquilo que é o jogo e também o possam compreender, pois essa
é também uma forma de eles melhorarem tudo aquilo que diz respeito à sua
capacidade pessoal. Contudo, não pode ser o único foco de todos os momentos de
treino.
Acima de tudo, e especialmente em
idades menores, é de extrema importância o desenvolvimento da relação com bola
– fintas, passes, remates, entre muitos outros gestos que são considerados
técnico. Isto é o mais valioso para um jogador, porque os treinadores mudam,
mas o que ele sabe fazer irá com ele até ao fim da sua carreira. Grandes clubes
da alta roda europeia premeiam essencialmente a relação com bola até idades
muito avançadas, tais como Barcelona, Ajax, Genk, etc.
Como foi referido acima, a tática
é sempre importante, cabe ao treinador dosear a mesma, de forma a que cada um
dos seus jogadores se sinta feliz e concretizado por fazer parte de uma equipa.
Tudo é melhor quando estamos a fazer algo que gostamos e, por isso, o processo
de treino e de jogo tem de coexistir com muitos momentos de brincadeira e de
descontração, para que no momento de introduzir dinâmicas – diga-se um processo
mais tático – os alunos estejam predispostos a ouvir e, mais importante, a
evoluir.
É importante compreender que a
carreira de um jogador nunca ficará definida pelos títulos que conquistou no
futebol de 7, mas pelo que ele é capaz de fazer com a bola, o que entende do
jogo e, mais que tudo, pela paixão que sente pelo desporto. Mais do que
falarmos de tática, dinâmicas, estruturas, é fundamental existir um equilíbrio
entre tudo isto, tendo como objetivo final o melhor para cada um deles. Sem
colocar o nosso sucesso acima disso.
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