Este artigo foi escrito de forma brilhante por João Brandão, um dos redatores Bola na Rede na Secção Futebol Internacional
A Taça Asiática
chegou ao fim esta sexta-feira, com o Qatar a fazer história ao levar de
vencido o Japão na grande final e a vencer o trofeu pela primeira vez, na
primeira final que disputou.
A equipa do Golfo
foi a principal surpresa da competição, ao conseguir chegar ao título com um
percurso imaculado de 7 vitórias em outros tantos jogos. A equipa orientada
pelo catalão Félix Sanchez chegou à final sem sofrer qualquer golo e com veia
goleadora apurada. Destaque evidente para Almoez
Ali, o melhor marcador da competição com 9 golos, batendo o recorde de
golos numa só edição da competição. Aos 22 anos, está claramente a chamar por
outros palcos (o golo de bicicleta nesta final promete correr mundo). Apresenta
qualidade dentro da área, mas também dá apoios frontais e ataca bem a
profundidade. A servi-lo, esteve quase sempre Akram Afif. Principal criativo do meio-campo, tem um toque de bola
exuberante e somou 10 (!!!) passes para golo, sendo o meu MVP do torneio. Nesta
final, ficou também patente o bom trabalho defensivo da equipa, que só sofreu
um golo em toda a competição. Os dois centrais, Tarek e Bassam, e o médio
defensivo Madibo formaram um muro à frente da baliza de Al Sheeb, tendo também
uma saída com bola capaz. Ainda com menos de 23 anos, podem dar o salto a
qualquer momento.
Os japoneses
não foram a equipa mais vistosa da competição, mas fizeram do pragmatismo a sua
maior arma. A atravessar uma mudança geracional, a seleção do Sol Nascente
fez-se valer pela conjugação de jogadores mais experientes como Sakai, Yoshida
ou Haraguchi, com jovens como Tomiyasu, Doan ou Minamito. O maior destaque vai
para Tomiyasu, defesa-central que
até jogou o primeiro jogo no meio-campo, mas desceu no terreno para formar uma
dupla de betão com Yoshida. Aos 20 anos e a atuar já na Europa, parece ser um valor
firme da turma nipónica, conjugando boa capacidade técnica com velocidade de
execução e raciocínio. Na frente, Ritsu
Doan também surpreendeu pelo seu ritmo desconcertante.
Destaque
também para o Irão, que ate à meia-final vinha fazendo um percurso imaculado e
era apontado como principal favorito. O jogo com o Japão foi um descalabro para
a equipa de Carlos Queiróz, que sofreu golos em várias desatenções defensivas e
embateu sempre na muralha japonesa. Destaque para Sardar Azmoun, avançado do Rubin Kazan, que já tinha dado bons
créditos no Mundial, frente a Portugal. Avançado móvel, dá-se ao jogo e
contribui fora das zonas de finalização, mas também tem apurado o faro de golo.
As desilusões
da competição foram a Austrália e a Coreia do Sul. Os campeões em título
apresentaram-se a baixo nível, atravessando uma crise geracional. Sem poder
contar com o talentoso Arzani devido a lesão, os cangurus ficaram entregues à
criatividade de Rogic e à velocidade
de Mabil (ex-Paços de Ferreira), que
foram insuficientes perante adversários como a Jordânia ou os Emirados. Já a
equipa de Paulo Bento dececionou ao mostrar-se muito dependente de Heug-Min
Son. Mesmo com este em campo, demonstrou falta de criatividade ofensiva, usando
e abusando dos cruzamentos. Mais uma mancha no currículo do português.
Das restantes
seleções, que não eram vistas como favoritas, destaco o estreante Quirguistão.
Apostando na diáspora e naturalização de alguns jogadores, demonstrou-se a um
grande nível na sua primeira participação em grandes provas, apostando numa
pressão alta e asfixiante à saída de bola dos adversários. Influência enorme de
Edgar Bernhardt, médio de origem
alemã que foi a referência no corredor central. Jogando bem com os dois pés,
todos os ataques quirguizes passaram por si. Vitalij Lux também esteve em destaque ao apontar um hat-trick
frente às Filipinas e a segurar jogo na frente.
Por fim,
destaco também o Iraque. Ao contrário do que eu esperava, o nosso bem conhecido
Osama Rashid não teve papel de destaque nos iraquianos. Foi titular no primeiro
jogo, mas não mais jogou. A equipa apresenta um conjunto de jovens jogadores
com um potencial interessante e poderiam ter ido mais longe, mas uma derrota
tangencial com os futuros campeões deixaram-nos pelo caminho nos oitavos de
final. Muhanad Ali, avançado de
apenas 18 anos deu-se a conhecer, dando muito trabalho aos defesas contrários.
Uma seleção a ter em conta nas próximas competições.
A Taça
Asiática deu, sobretudo, para dar a conhecer ao mundo países em que o futebol
começa a imergir e o talento a aparecer. Seguramente que muitos dos nomes aqui
referidos vão dar que falar nos próximos tempos e nós aqui estaremos para os
acompanhar.
Comentários
Enviar um comentário