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Jogar contra a idade com competência


Ricardo Afonso tem 23 anos. É treinador UEFA B e licenciado em treino desportivo. Conta já com 8 anos de experiência entre futebol de formação e futebol sénior. Na época 2020/2021, foi treinador adjunto do Sporting Ideal. Na época seguinte, assumiu o comando do GD São Roque, dos Açores, tendo-se estreado com 22 anos como treinador principal na Taça de Portugal, no jogo GD São Roque - SC Farense.


Acredito que no futebol só pode existir um sentimento, uma ideia... Ganhar!

Todos procuram ganhar, todos procuram a positividade seja em que contexto for, esse fator é a parte fácil da questão...


A conquista do grupo e dos adeptos, a liderança sobre o grupo, o estado de espírito, o implementar de uma cultura de vitória e exigência diária, as motivações e ambições e expectativas de todos é a parte desafiante.

Acredito que a minha passagem pelos Açores foi extremamente desafiante, aos 22 anos integrar uma equipa técnica de Campeonato de Portugal em zona de descida onde era preciso ganhar e depois tornar-me treinador principal de uma equipa sénior aos 22 anos, foram sem dúvida alguma os maiores desafios da minha vida até então... Como se conquista os jogadores que têm a mesma idade ou até são mais velhos que tu próprio? Com exigência, competência e rigor! Quanto mais rigoroso, exigente e disciplinado fores com os jogadores, consegues passar a mensagem e a imagem e acabas por conseguir liderar o processo pelo exemplo. É imperial quando estamos inseridos num contexto diferente, de incerteza e de responsabilidade máxima, tentarmos fazer com que os nossos jogadores sejam o nosso espelho, profissionais em toda a linha e eu posso dizer que tive realmente muita sorte em ter encontrado grandes atletas e grandes homens tanto no Sporting Clube Ideal como no Grupo Desportivo de São Roque, que me permitiram valorizar como pessoa e como treinador. É preciso mente aberta, qualidade humana e futebolística para aceitar um treinador mais novo. Tive vários atletas que eram mais velhos que eu mas isso nunca foi um entrave, sempre fui respeitado! Frontalidade, honestidade e coerência foram pedras basilares. Quando os jogadores entendem que tu apenas queres ganhar e valorizar o grupo, a equipa, as individualidades, o clube e a ti próprio, eles entregam a alma em campo. Uma das coisas mais parecidas com o futebol profissional que vivenciei foi a constante ligação com a comunicação social que, na Região Autónoma dos Açores é muito valorizada e tem um papel importante na promoção do futebol e dos seus intervenientes. Por exemplo, o ter discernimento para fazer uma auto analise ao nosso jogo em pouco tempo para depois o expor para uma rádio ou rede televisiva é algo muito comum nas ilhas, a forma como comunicamos e a nossa imagem é algo que considero fundamental para o desenvolvimento do jovem treinador.

Queres ganhar mais do que ninguém? Queres ir ao pormenor para que nada falhe? Estudas os adversários ao pormenor? Tens atenção a tudo o que envolve a vida dos teus jogadores e restante staff? Preparas a informação de forma simplificada para que todos sem exceção saibam o que fazer em campo? É aí que existe o “click” e é aí que o grupo entende que queres que as coisas funcionem, que haja sucesso. Os atletas passam a querer ouvir-te e torna-se mais fácil fazê-los acreditar na tua ideia. Se o problema é a idade? Então temos de responder com a competência... Quanto mais novo, mais competente e mais profissional tens de ser! Esta é a minha perspectiva pelas vivências que tive, e que boas vivências.
Ser novo não pode ser a ideia principal, porque uma coisa é ser novo na idade, outra coisa é ser novo naquilo que se faz, e eu tenho a sorte e privilégio de já contar com 8 anos como treinador, o que para um treinador de 23 anos é um marco que me deixa bastante orgulhoso.

(Podes ler o primeiro artigo publicado por Ricardo Afonso neste blogue aqui)

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