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Curtas do Benfica vs Dínamo Kiev

Após uma exibição frente ao Sporting que todos já conhecemos o desfecho e como o jogo se desenrolou, o Benfica apresentou-se frente ao Dínamo Kiev com obrigação de vencer, tendo obtido o resultado pretendido por 2-0, e beneficiando da vitória do Bayern frente ao Barcelona.

Do jogo, achei interessante retirar três ou quatro excertos que considero terem alguma relevância, e que vos apresento de seguida.

Yaremchuck: Na minha opinião, é o melhor avançado do Benfica, mas que tem sido prejudicado por um sistema de jogo que nem sempre beneficia as suas qualidades. Seria o PL perfeito para o sistema de 442 que Jorge Jesus durante tantos anos nos habituou, fruto da sua forte presença na área, capacidade de finalização, mas também por não ser tosco nenhum com os pés, tendo a capacidade de se associar com os colegas, ação que ficou várias vezes comprovada durante o jogo. Neste excerto, vemos Otamendi ligar por dentro (o argentino tem feito vários passes por dentro e tensos com qualidade durante esta época), e Yaremchuck que se mostra ao jogo e, com um toque e de costas, faz um passe que poderia ter isolado quer Pizzi, quer Rafa. Se repararem, Pizzi percebe tarde a intenção do colega, e não arranca no momento certo. Já Rafa, fruto da sua velocidade, quase que conseguia controlar a bola. Apesar do passe falhado, é isto que Yaremchuck pode oferecer de diferente de Darwin e Seferovic: a capacidade de se associar com os colegas com qualidade, dando mais e melhores soluções quer em ataque posicional, quer em transições rápidas.

Grimaldo e a arte de não defender: Se é verdade que Grimaldo é bastante forte no processo ofensivo, também é verdade que apresenta inúmeras limitações no momento defensivo, tanto em situações de 1x1, como até no alinhamento defensivo, onde várias vezes não se mostra em sintonia com a restante linha defensiva. Neste excerto, vemos um posicionamento que não se deve verificar em nenhum defesa: Grimaldo corre de costas para o portador da bola, perdendo o sentido da mesma. Por acaso, o seu colega conseguiu cortar a bola que lhe foi colocada nas costas, mas este posicionamento não se admite num nível assim.

Lance de perigo do Dínamo Kiev: O lance ofensivo dos ucranianos que levou ao falhanço, de baliza aberta, daquele que seria o primeiro golo da partida, nasce de um mau cálculo da linha defensiva encarnada. Se repararem, o portador da bola não tem oposição, ou seja, tem a bola descoberta. Ao ver o avançado a correr buscando o espaço nas costas da defesa do Benfica, o jogador coloca a bola no espaço. A linha defensiva do Benfica demorou a reagir. Se repararem com atenção, o avançado está em clara vantagem em termos de velocidade, já que parte desde trás, e o atraso da defesa encarnada levou a que este se conseguisse isolar primeiramente, criando uma situação de golo iminente. O jogador que vai finalizar, parte atrás de Grimaldo, mas consegue ir rematar sozinho, a poucos metros da baliza. Como referi acima, o espanhol tem imensas lacunas defensivas.

Weigl e João Mário continuam na pressão H-H: Jorge Jesus não mudará, e os dissabores que a derrota frente ao Sporting lhe trouxeram, não o fizeram mudar um milímetro na sua forma de pressionar. Como se pode verificar na imagem, os médios do Benfica exercem a pressão homem a homem, o que faz com que deixem jogadores adversários entre a linha média e defensiva encarnada, como sinalizados na imagem. Ainda que, caso esses jogadores recebam a bola, sejam rapidamente pressionados pelos defesas benfiquistas nas suas costas, basta um dos médios aproximar, para fazer uma tabela rápida e desmontar facilmente a pressão encarnada, como ficará visível no vídeo posterior à imagem agora apresentada.


Jogada que desmonta a pressão do Benfica: Como falei em cima, eis a forma como o Dínamo Kiev facilmente desmontou a pressão dos médios do Benfica. Central coloca a bola nas costas dos médios encarnados, o jogador que recebe joga curto no colega que está virado para o jogo, e este coloca nas costas da linha defensiva do Benfica. Por acaso, André Almeida conseguiu ir a tempo de cortar a bola, caso contrário, teria sido uma situação de perigo para a defesa encarnada.

O golo do Benfica: O golo do Benfica mostra várias coisas positivas. Desde logo, nasce de um passe tenso de Otamendi, qualidade que já lhe apontei acima. Depois, a tabela entre João Mário e Pizzi. Diga-se o que se disser, a verdade é que Pizzi oferece bastante critério com bola e perigo em zonas de finalização, e neste jogo isso não foi exceção. A sua presença em campo proporciona momentos destes. A seguir, a excelente definição de Rafa, que tem evoluído bastante neste capítulo: soltou a bola no momento certo, com a precisão certa. Por fim, Yaremchuck. Enquanto a jogada se desenrola, desloca-se para a área e aguarda o momento certo para depois atacar o sítio onde a bola vai ser colocada, antecipando-se bastante bem ao defesa contrário. Esta é mais uma vantagem que o ucraniano traz ao jogo do Benfica.

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