
É possível fazer um bom trabalho técnico-tático sendo treinador de uma equipa que milite na última divisão distrital? Conseguirá um treinador transmitir as suas ideias e impor a sua metodologia de treino neste contexto amador?
Não consigo dar uma resposta a ambas as questões. A única coisa que sei, enquanto treinador desta realidade, é que é muito exigente e difícil, levando muitas vezes a colocar tudo em causa, incluindo o nosso trabalho e dedicação, mesmo não estando diretamente dependente da competência do treinador em causa, mas sim de toda a “envolvência colateral”, que impede o sucesso do trabalho idealizado. Quando falo de “envolvência colateral”, refiro-me ao facto de termos, na maioria das vezes, um plantel composto por atletas de qualidade, mas amadores, para quem o futebol é apenas um hobbie e, quando assim é, as suas vidas profissionais estão, naturalmente, em primeiro lugar.
Muitas vezes, estes atletas necessitam de faltar a treinos
ou jogos, assim como os atletas que estudam, o que os obriga, numa altura de
frequências/exames, a deixarem um pouco o futebol de lado para se dedicarem com
outro foco àquilo que será seu futuro: uma licenciatura, doutoramento ou
mestrado. Perante estas vicissitudes, cabe a nós, treinadores, percebermos
ambas as situações, pois estamos a falar, repito, de um contexto amador.

Custa muito, porque um treinador que tenta ter algum brio
“profissional”, perde tempo a idealizar, preparar e elaborar os planos de
treino para que tudo corra pelo melhor, tendo em conta a periodização que
defende, promovendo a intensidade e a competitividade dentro do próprio treino.
Tal situação torna-se inglória, e por vezes provoca mesmo um sentimento de
impotência de conseguir fazer melhor, pois não nos podemos esquecer que cada
atleta vive do seu orçamento familiar que não é alcançado à base do futebol, bem
como os estudantes que lutam pelo seu futuro através do seu percurso académico.
Que pode um treinador fazer perante este quadro? Se calhar, fazer única e exclusivamente
o seu melhor e adaptar-se à realidade que aceitou e apelando à sua própria
condescendência e compreensão. Sobretudo, para nós treinadores, importa não
desmoralizar, continuando a acreditar que é possível fazer um bom trabalho,
mesmo com todas estas adversidades. Ter esta sensibilidade, também é ser
treinador.
AS
Very interesting to hear about the challenges, and observations of a district coach in Portugal. Similiar to some of the challenges we face in our clubs in the U.S.A.
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